Na terra da “Porta do sol” passei o dia pensando como seria vê-lo pessoalmente, e antes que pudesse me iludir com uma possível possibilidade de amor, dialoguei com o meu coração e expliquei que toda a situação que estava para acontecer não seria nada além de uma noite de mistério e de intimidade. Não traçaríamos esboços sobre qualquer possibilidade de um futuro juntos. Ficaríamos apenas com a lembrança, amarga ou doce, daquele encontro de almas, tateando as cegas a procura de um resquício de algum sentimento perdido, mas não, necessariamente, construído por nós.
Ele chegou após às 21 horas, vestia camisa e short preto (uma combinação de vestuário simples para alguém da sua posição social), e sorriu quando me viu se aproximar do seu carro, uma Mercedes-Benz, com banco de couro branco. Entrei no veículo e nos cumprimentamos com um singelo beijo no rosto. Educado, ele teceu elogios sobre a minha aparência e o aroma do meu perfume. Seguimos pelas ruas noturnas até o seu apartamento. E assim aconteceu que, ele segurou a minha mão e quando entramos no elevador ele me envolveu em seus braços, como se já nos conhecêssemos há bastante tempo e existisse um autêntico carinho dele por mim. Meu corpo enrijeceu por não saber dissimular afeto.
O seu lar era minuciosamente decorado de acordo com o seu gosto pessoal. Havia uma adega de vinho e uma coleção de suvenires dos países nos quais ele esteve. Durante o jantar, a conversa girou em torno das principais experiências que ele teve em terras estrangeiras. Dessa forma, pude ter um gostinho de imaginar como teria sido sair do Brasil para a Espanha se a pandemia não tivesse destruído vidas, sonhos e relacionamentos.
Assistimos A mulher na janela deitados de conchinha no sofá. Mas essa cena aconteceu depois de um longo beijo, quase cinematográfico. Nesse momento, o meu plano perfeito de não me envolver sentimentalmente com aquele homem que eu conhecia há mais de um ano, começou a falhar. Por um descuido momentâneo, o deixei ultrapassar o limite emocional que eu havia estabelecido, então, transamos.
De repente, a minha vida estava ali, cruzada com aquela outra vida, os olhos verdes cravados nas minhas escuras pupilas. Havia uma excitação nas curvas dos corpos suados e um vazio no coração.
Quando estivera deitada no ombro dele nu, escutando Aerosmith, enquanto eu usava a sua blusa ao invés das minhas roupas, embriagados pelo uísque alemão e o vinho branco, conversamos sobre as nossas antigas paixões e os nossos fracassos amorosos, até adormecermos.
Éramos bonitos juntos, como se existisse entre nós uma estranha e secreta harmonia de (re) encontro. Mas o amor dele era um espinho e eu uma rosa.
Quando o dia nasceu, deixando para trás o que ocorreu, nada aconteceu e eu sai do campo mágico daquela pessoa para a realidade desconexa da minha vida.
Nunca mais nos vimos.