À beira do abismo: o preço oculto da busca pelo sucesso na sociedade moderna

            No ano passado, fui engolida pela voragem da sociedade capitalista, onde a pressão pela produtividade e a toxicidade da positividade imperam. Eu vivia imersa em angústia por não conseguir fazer tudo o que me fizeram acreditar que deve ser feito para ter uma vida bem sucedida. Então, seguindo o fluxo da “corrida dos ratos”, mudei-me para uma metrópole, trabalhei em locais que eu não gostava, fiz horas extras nos fins de semana, outrossim, vivi dentro de um ambiente no qual a competição é elevada ao extremo, resultando em um isolamento social e individualismo exacerbado. No final das contas, segui o roteiro social que promete sucesso, mas tudo isso resultou em um esgotamento mental profundo e sérios problemas psicológicos: transtorno de ansiedade, ataques de pânico e depressão.

 

 

Diante disso, aos olhos da sociedade, tornei-me uma “perdedora” e a culpa disso ter acontecido era toda minha, em outras palavras, se não formos um vencedor, fracassar, a culpa é nossa, independentemente dos eventos externos que possam ter influenciado nossa jornada. Essa narrativa implacável coloca uma pressão adicional sobre os indivíduos. Ademais, adotei posturas que não eram genuinamente minhas, mas sim imitações dos outros. Isso resultou numa perda de identidade e numa ruptura na relação social entre o Eu, o Outro e o Igual. Consequentemente, deixei de dedicar tempo às atividades que eram verdadeiramente essenciais para mim e que eu desfrutava, como escrever ficção, pintar, dançar, estar em contato com a natureza ou simplesmente sentar em um local tranquilo e ler um romance.

Isso ocorreu porque toda a minha atenção estava voltada para atividades que considerava produtivas apenas no sentido de gerar mais dinheiro. Seguindo essa linha, buscava incessantemente aumentar minha renda para adquirir mais bens materiais, acumulando riquezas na tentativa de impressionar pessoas, muitas das quais nem faziam parte do meu círculo social. Essa busca desenfreada por status e reconhecimento externo acabou por me distanciar das atividades que realmente me proporcionavam felicidade e satisfação pessoal.

Em seu livro Sociedade do cansaço, Byung-Chul Han analisa uma enfermidade que aflige a sociedade contemporânea e delineia um contexto social no qual a demanda por produtividade e resultados é incessante para os seus membros. Dentro desse cenário, as pessoas se veem imersas em um ciclo de autoexploração, permeado por medo, pressão e angústia. Esse fenômeno de autoexploração surge como resultado do hiperconsumo, uma busca ininterrupta por acumular bens materiais, sem jamais alcançar a plenitude ou a satisfação com aquilo que se possui.

Neste mundo, somos constantemente bombardeados com a ideia de que estabelecer limites é um retrocesso, e que qualquer objetivo é alcançável desde que sejamos incansáveis no esforço. Estamos imersos em uma cultura que exalta a ideia de que o sucesso é meramente uma questão de determinação e perseverança, ignorando as inúmeras barreiras estruturais e sociais que podem obstruir nosso caminho

Nesse viés, de acordo com seus conceitos, o cansaço é uma reação do corpo ao excesso de positividade e cobrança impostos pela sociedade. Han discute a violência inerente à cultura do pensamento positivo, que é uma das estratégias da sociedade atual para criar indivíduos automatizados, focados no que é essencial para o sistema capitalista: a maximização do lucro. A pressão por desempenho explora as inseguranças dos indivíduos, ao impor expectativas exageradas de sucesso no trabalho. Han lembra-nos as advertências de Nietzsche:

“por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto…”

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