Maré da Alma

 

 

Era fim de tarde,  mais uma vez, eu estava sozinha contemplando o crepúsculo e o mar. Naquele momento, lembrei-me de um trecho que a poetisa Sylvia Plath escreveu em seu diário, desse modo, como ela descreveu; percebi que sou apenas uma partícula insignificante no vasto oceano de matéria, dotada da capacidade de perceber minha própria existência.  Entre os inúmeros seres, no momento do meu nascimento, também continha todo o potencial. Contudo, ao longo do tempo, fui limitada, influenciada e moldada pelo meu ambiente, pelos efeitos da hereditariedade.

Ao emergir neste mundo, minha essência original se mesclou com as circunstâncias que me cercavam. Influências culturais, experiências pessoais e as complexas interações com os outros moldaram meu ser. A cada interação, cada escolha e cada experiência, fui gradualmente transformada e deformada pela influência do meu ambiente.

É verdade que eu sabia que havia outra coisa, atrás e além daquelas ondas.  Meu coração batia-lhe violento, espaçado. Inclinada, observava a maré encher e as ondas quebrando, enquanto o vazio da existência humana crescia dentro de mim. O que chamavam de crise existencial viera afinal. Eu cuidei tão bem da minha vida durante todos esses anos para que ela não explodisse. Fiz tudo o que os outros achavam que era o melhor para mim. Fui uma menina obediente e, por isso, tornei-me uma adulta quebrada. Meus cacos estão em todos os lugares pelos quais passei. Talvez um dia, eu saia catando-os, mas hoje eu só quero contemplar o mar e, talvez, fazer parte dele.

O desafio residia no fato de que a vida me oprimia, provocando um desconforto profundo, semelhante ao frio intenso que se originava na brisa do mar. Nada parecia capaz de despertar um sorriso em meu rosto. A falta de entusiasmo e a ausência de alegria permeavam meu ser. Por mais que eu tentasse expressar, argumentar e apresentar fatos, ninguém parecia compreender a magnitude da minha dor. Afinal, ela era exclusivamente minha, nascida em mim, crescida em mim, e em mais ninguém.

Permanecia, assim, em um isolamento interno, envolta em uma escuridão silenciosa. Por mais que tentasse descrever a tempestade que rugia dentro de mim, as palavras pareciam insuficientes para transmitir a profundidade da angústia que eu carregava. A sensação de solidão se acentuava, pois era uma batalha solitária, uma jornada individual pela escuridão.

Naquele dia, eu que tenho tanto medo do mar, quis fazer parte dele – integralmente – e toda a minha dor iria virar espuma do oceano, leve…

Mas não aconteceu, fui covarde! Outros dirão que fui corajosa.  Bem, eu apenas dei alguns passos para trás, afastando-me da maré. As lágrimas fluíam dentro de mim, transbordando como água em um copo instável e excessivamente cheio. A emoção inundava meu ser, procurando uma forma de expressão. Era como se meu coração estivesse prestes a transbordar, incapaz de conter a intensidade do que eu sentia. E, assim, sobrevivi mais um dia, apesar de ainda sentir dor e frio.

 

3 comentários em “Maré da Alma”

  1. Adriano Alves Martins

    Bom dia. A vida nunca foi e jamais será fácil. Ao olharmos a imensidão do mar, das montanhas, do universo e de tudo que foi criado, podemos chegar a incontestável conclusão de que existe um autor . Ele se chama Deus 🙌. Nunca estamos sozinhos, por mais que os momentos de solidão queiram nos fazer pensar que ninguém nos vê, devemos lembrar que, o criador jamais abandona a sua criação ! O pai jamais se esquece do seu filho e os momentos de solidão que ele permite , é para que paremos para refletir no seu imenso amor e tão somente nos aguarda com paciência que o busquemos.
    Sidi, você não está só . O SrJesus está cuidando de ti, pois , se não fosse assim, este testo não teria sido escrito . Deus ti abençoe 🙌.
    Um forte abraço 😘😘😘😘😘😘

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